Crise de Meia Idade – A hora “H” – Parte 1

agosto 30, 2010 às 12:32 pm | Publicado em Artigos | Deixe um comentário
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A hora “H”

Entenda porque a crise de meia idade masculina é descrita por psicoterapeutas e médicos como um dos mais desestruturantes processos experimentados por um homem

Parte 1

Fernando Savaglia

Com 44 anos de idade A.S. tinha um excelente cargo dentro de uma multinacional.   Casado há mais de duas décadas mantinha uma relação extraconjugal com uma jovem estagiária da área de marketing de sua empresa. Durante meses trocaram emails e mensagens combinando encontros num explícito jogo de sedução. Na época, o executivo acreditava que esta relação era uma forma de aumentar sua autoestima e aliviar o tédio de seu casamento. No entanto, quando o “caso” estava próximo de completar um ano, a jovem resolveu se afastar e, ainda que não tenha decretado um rompimento total, acabou por desencadear uma verdadeira revolução na vida do executivo. Ávido por entender o motivo do desencantamento, aos poucos A.S. foi tomado por crises cada vez mais frequentes de ciúmes. Reconquistar o afeto da moça virou uma obsessão. Aos poucos, os jogos de sedução, que até então eram encarados como algo prazeroso, se transformaram em algo sofrido e desestruturante. Além de passar o dia tentando adivinhar e prever os pensamentos da garota, passou a exibir crises de ansiedade alternados com momentos de melancolia. A angústia do executivo chegou a um ponto que teve que se afastar do trabalho por dias, o que alterou substancialmente sua rotina em  família e colocou seu casamento em risco.

Para alguns, o caso descrito acima poderia ser enquadrado como o  exemplo típico de uma paixão obsessiva. Para muitos terapeutas, no entanto, os sintomas  apresentados indicam que A.S. acabara de se deparar com a mais poderosa experiência psíquica que muitos homens sofrem na vida, a crise de meia idade.

Conhecida pejorativamente como “idade do lobo”, esta crise seria mais uma peça no processo descrito pelo psiquiatra  suíço Carl Gustav Jung como metanóia (palavra grega que significa mudança) o que se dá a partir da confrontação do indivíduo com o “envelhecer” e, por conseguinte, com a idéia de ser finito.

Na ânsia de conter a angústia desta fase, alguns homens passam a tomar atitudes que podem causar estranheza para a família como, por exemplo, mudar abruptamente de emprego, despender tempo exagerado cuidando da aparência ou mesmo realizar algum  sonho de consumo de quando tinha vinte anos de idade.  Dependendo do olhar que damos ao processo, todas estas buscas podem ter um lado positivo, como explica o analista junguiano José Marcio Luvizotto. “Estas são idealizações motivadas por resquícios de juventude que clamam por atenção. Se pensarmos na idéia de Jung que nosso destino é a completude e se sentimos que algo ficou faltando lá atrás, essa busca pode ser até interessante. O problema é quando você fica fixado e aí reside o grande impasse do desenvolvimento psicológico, a fixação”. Outro sintoma claro da crise de meia idade, brilhantemente explorado no romance Alta Fidelidade, do escritor inglês Nicky Hornby, é a insegurança causada pelo processo e que faz o personagem principal procurar antigas namoradas tentando entender o que deu errado com os antigos relacionamentos e, principalmente, o que há de errado com ele mesmo.

“Enquanto o homem tenta encarar sua crise de meia idade de maneira mais individual, mesmo sofrendo, a mulher geralmente mantém sua intenção de preservar e cuidar da família”.

Josefina Rovira Prunor – psicóloga

Ansiedade no palco

junho 9, 2010 às 9:33 pm | Publicado em Artigos | Deixe um comentário
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Josefina Rovira Prunor
Psicanalista

Nervosismo, ansiedade, medo, pânico, fobias…São varias as emoções perturbadoras. Todos nós temos momentos de nervosismo, medo ou preocupação, o que é normal, principalmente quando se refere a uma apresentação em público, passível de erros. Mas quando essas emoções se tornam muito freqüentes, atrapalhando o desempenho das atividades, pode haver algo errado.

Acredito ser importante dar uma breve definição: nervosismo é a forma popular de designar ansiedade. Afinal o que é ansiedade? Ansiedade faz parte de nossa natureza e esta a serviço do nosso instinto de proteção, sua função é sinalizar a eminência de algum perigo. Este perigo pode ser externo ou interno, darei enfoque para o perigo interno, muito mais difícil de ser detectado por pertencer ao mundo inconsciente, área de atuação da Psicanálise. Situações novas ou inesperadas, que representam um perigo, acionam o medo. A ansiedade e o medo se manifestam fisicamente em forma de sudorese, taquicardia, respiração acelerada…Isto tudo trará com certeza prejuízos ao músico que terá a sensação de estar paralisado e com isso perdendo sua atenção e concentração para seu foco que é a apresentação.

O ser humano carrega em si algumas necessidades básicas para seu desenvolvimento, dentre elas, a necessidade de ser reconhecido em suas habilidades e também a necessidade de aprovação. Tocar em publico faz aflorar essas necessidades, porem, existe o risco de não ser aprovado. Não ser aprovado representa um grande perigo, o da rejeição, e isto traz muita ansiedade e conseqüentemente muito medo. Enfatizo mais uma vez: tudo isto se processa de forma inconsciente, ou seja, o musico em questão não tem conhecimento destes mecanismos, que pode ser, como hipótese, uma auto-estima rebaixada.

Cada indivíduo é impar com relação à forma de lidar com suas ansiedades, alguns conseguem lidar bem, outros não e podem desenvolver até mesmo uma fobia social, que é o medo de eventos sociais como festas, encontros ou apresentações como no caso dos músicos. Numa dimensão mais crônica pode ate mesmo ser vitima da síndrome do pânico.

A ansiedade pode ser tratada com muito sucesso através de psicoterapia, medicamentos, ou ambos. Nem o Psicólogo e nem o Psicanalista estão habilitados para medicar, portanto, o tratamento com remédios deve ser discutido com seu médico. Uma dica simples, mas que pode ser eficaz num quadro de ansiedade leve, refere-se a observar a respiração e controlar quando ela se altera, mantendo um ritmo constante e mais lento. Dentro os medicamentos que podem ser usados estão os ansiolíticos e os antidepressivos ou também o uso de florais. Acredito que o tratamento mais apropriado irá depender do tipo de distúrbio de ansiedade, assim como tempo do tratamento. Alguns distúrbios de ansiedade podem durar pequenos períodos de tempo, enquanto outros poderão ocorrer durante toda a vida caso não ocorra uma intervenção adequada.

O ideal é que se procure ajuda profissional assim que surgir, de forma insistente, o sintoma de ansiedade. Com o tratamento adequado, os músicos podem resgatar o controle de suas vidas, com qualidade, elevando sua auto-estima, sem medo de errar e se errar… não tem problema, faz parte do universo humano.

Matéria enviada para a revista “Teclado & Áudio”

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